domingo, 6 de julho de 2008

ANJO

Levantou-se e foi para a cozinha. Queria tomar café. Puro. Só o escuro do café. No quarto, ele se preparava para levantar da cama.
Ela começou a arrumar a mesa. Leite, pão, geléia e margarina. Procurou pelas frutas, em vão, na geladeira. Precisava fazer compras. Era um dia como outro qualquer. A não ser por um estranho desejo que ela colocava de lado quando vinha.
Ele tomava banho, ela procurava algo no armário. Já estava ficando impaciente quando viu o vidro. Deixou-o sobre a pia, ao lado da cafeteira. Seguiu para o quarto. A cama estava arrumada. Ele havia arrumado. Ela pegou a escova e começou a pentear o cabelo. No começo, era cuidadosa. No fim, parecia que queria arrancar os fios de raiva. Ele saiu do banheiro, se aproximou e lhe deu bom dia com um beijo. Ela não sorria, não dizia nada.
Aproveitou para tomar um banho rápido enquanto ele se trocava. Ao sair, procurou pela toalha dele. Ela já secava na área de serviço. Tudo perfeito. Ele já a esperava na mesa, lendo um jornal. Ela colocou um vestido e foi sentar-se ao seu lado. Ele perguntou pelo café. Ela pulou da cadeira, como se tivesse cometido um erro ao esquecer de colocá-lo na mesa. Pediu para servi-lo. Ele deixou.
Os minutos passavam e ele não parava de ler. Ela já havia tirado a mesa e deixado a louça na pia. Não, ele não iria fazer mais nada. Terminou de se arrumar. Ele finalmente se levantou e se despediu. Parou meio zonzo por alguns segundos. Ela perguntou se estava tudo bem. Ele fez que sim com a cabeça. Deu um beijo de despedida. Perguntou se ela queria uma carona. Não, obrigada, respondeu.
Ele se foi. Ela procurou o vidro, jogou o resto do líquido fora, lavou a embalagem e jogou-a no lixo. Terminou de se arrumar e tomou o elevador. Ao descer, percebeu um movimento estranho na garagem. Quando chegou lá, viu que ele estava caído no chão. O porteiro, desesperado, olhou para ela e disse que ele estava tendo um ataque. Estavam procurando por socorro. Ela se abaixou e tocou o rosto dele, molhado de suor.

Quando lhe perguntaram o porquê, ela respondeu: Ele era muito bom para mim!

2 comentários:

Nathalia Milian disse...

Nossa, que triste essa história! Quase chorei aqui...

Marta De Divitiis disse...

Que texto bom Carmen! Adorei! Visitarei sempre seu blog...