domingo, 17 de agosto de 2008

O SORRISO SECRETO DE CAMILA


Não sei como aceitei o convite de Charles para encontrá-lo mais uma vez. Eu trazia em mim todas aquelas lembranças de menina do interior. Rodeadas de fantasmas de tias velhas, sozinhas e mal-amadas. Trazia também o frescor dos meus 18 anos e o peso da minha virgindade. Engraçado, eu me lembro bem, e ele também, como pude perceber, o dia em que prometi, debaixo de um pé de jasmim, que ele seria meu primeiro namorado, meu primeiro homem. Que viria de sua boca meu primeiro beijo. Não deveria ter levado a sério aquilo, afinal eu tinha 10 anos e ele 13. Na verdade, até fomos namoradinhos e ele realmente me deu o primeiro beijo.
Só que meu pai conseguiu um emprego melhor em outra cidade e os pais de Charles preferiram mandá-lo para estudar fora quando tinha 15 anos. Claro que chorei como se o mundo fosse acabar, como fazem as meninas sonhadoras, fatalizando o banal para supervalorizá-lo. Depois de três meses eu estava refeita e mais sapeca do que nunca. Não pensava em sexo, nem imaginava o poder que essa palavra continha. Andávamos em turmas de quatro. Todas falavam de suas experiências e eu, realmente, era a mais atrasada. Até que conheci Roberto. Ele era cinco anos mais velho que eu, fato que meus pais não aprovavam. Porém, ele sempre deixou claro que não iria ultrapassar limites, seja lá o que isso significasse para ele.
Comecei a me enfeitar, usar decotes, pois meu corpo estava desabrochando de forma precipitada e descontrolada. Lembro-me do rapaz que ficava na porta da loja só para me ver passar e falar: “como seus peitinhos estão ficando lindos”. Eu morria de vergonha e comecei a atravessar a rua. Mas eu sentia seus olhos me devorando vagarosamente. Roberto também gostava de tocá-los. No começo, delicadamente. Minha mãe começou a confiar em nós e a nos deixar sozinhos na sala. Rapidamente, nos enrolávamos e tirávamos nossas blusas ou camisas. Ele esfregava seu peito quase sem pêlos nos meus seios. Depois, deitava sobre mim e eu sentia sua ereção, mas ele apenas se esfregava. Fui descobrindo meu corpo e meus desejos. E queria mais. Mas Roberto não me dava.

Estávamos nas férias de inverno e eu me preparava para meu casamento. Tinha apenas 18 anos e havia namorado dois homens na minha vida. Meu pai havia morrido um ano antes e sentia a vontade de minha mãe que eu me casasse e saísse de lá. Era filha única, ela era jovem e queria refazer sua vida. As coisas se encaixavam. Mais ou menos. Foi quando recebi a visita de Charles. Ele estava bem interessante e percebi pelo seu olhar que havia se admirado com a mulher que eu havia me transformado. Roberto estava viajando, arrumando documentos e comprando móveis na capital.
Saímos para jantar e Charles começou a me fazer várias perguntas. Eu havia caprichado na roupa. Um vestido vermelho, com um decote princesa que valorizava meus seios. Na parte de baixo, uma fenda que desvendava minhas pernas enquanto eu andava. No meio de suas perguntas indiscretas, questionou minha vida sexual com Roberto. Enrubesci e ele me disse que éramos amigos e não precisava me constranger. Falei que continuava virgem porque assim queria Roberto. Ele parou de beber, olhou para mim com o copo nas mãos e ainda colado à sua boca. Senti que eu o chocara. Daí em diante, ele começou um jogo de sedução sem limites. Levou-me para casa, mas não me deixou sair do carro antes de trocarmos um beijo, pelos velhos tempos. Só que aquele beijo nada de velho tinha. Era quente e perigoso como o inferno e eu o aceitei. Ele começou então a brincar com meus seios. Eu olhava pelas janelas para ver se alguém se aproximava. Tudo silencioso.
A música rolava no carro, um som sensual. Ele começou a brincar com minhas pernas. Pedia para eu abri-las e eu me recusava. Ele insistiu e conseguiu chegar aonde queria.
- Você está molhadinha!
- Impressão sua! – disse raivosa, sabendo que ele estava me descobrindo de novo.
- Lembra-se de sua promessa?
- Que promessa?
- Que eu seria o primeiro?
- Isso faz muitos anos. Eu vou me casar daqui a alguns dias. Roberto será o primeiro.
- Não, meu amor, eu serei. Você me prometeu, Camila.
- Você também me prometeu amor eterno e não cumpriu.
- Mas eu estou aqui com você!
- Mas vai embora como foi antes.
- Isso não é motivo para não ficarmos juntos.
E continuou a brincar com meu sexo. E eu sentia vontade de tirar a roupa e montá-lo ali mesmo. De repente, num rompante de realidade, puxei sua mão, abri a porta e desci do carro sem olhar para trás. De qualquer forma, sentia que ele estava rindo, zombando da minha ingenuidade.
No dia seguinte, cheguei da rua e encontrei-o conversando com mamãe. Ele me convidou para almoçar, mas eu não queria ir. Minha mãe achava que ele queria apenas papear e meio que me empurrou para sairmos juntos. Ela estava esperando o namorado. Saí e pensei que ela realmente não me conhecia. Nem Charles, nem Roberto. Ninguém. Então resolvi que iria surpreender a todos.
Saímos e ele me levou para passear no centro da cidade. Não tinha fome, mas almocei e ele aproveitou para pedir um vinho e dos bons. Bebi como nunca. Quando dei por mim, estava numa pensão, no meio de uma das ruas mais movimentadas. Ele me jogou para a cama e começou a brincar de novo. Lembro-me que chovia, mas mesmo assim eu ouvia as vozes das pessoas que por ali passavam.
Charles era realmente experiente. Quando percebi, brincava com minha calcinha no meio de minha perna. Estava fascinado e intrigado comigo. Seu corpo era pesado e eu quase não me mexia. Sentia seu hálito de vinho quando se aproximou e me beijou com desespero. Sabia que seria sua única chance de me possuir, ao menos meu corpo. Eu pedia para ele parar, mas sabia que nem ele nem eu queríamos o fim. Eu usava meias pretas 7/8 e ele me dizia que adorava mulheres que usavam meias pretas. Eu ria sem saber se pelas tolices ou pelo efeito do vinho.
Ele tirou suas roupas rapidamente enquanto eu desistia de me debater. O inevitável aconteceu, meio que entre soluços e pedidos de não, ele não me ouviu e foi entrando aos poucos no meu segredo mais sagrado, no que eu tinha de mais valioso e incomum. Mas eu queria aquilo. Sempre quis. Eu sempre senti tesão por ele, assim como sentia por Roberto, mas Charles teve coragem. A coragem de me fazer mulher.
E ele entrava e saia. Beijava-me como ninguém. Puxava meus cabelos para me fazer olhar para ele enquanto me penetrava. E perguntava se eu estava gostando. E eu o sentia indo até o fundo do meu corpo. E eu queria mais e comecei a pedir. Foi então que ele se deu conta que não havia desabotoado meu sutiã. Seus gestos foram tão rápidos que meus seios pularam em sua boca molhada e eu ouvia o som daquela sucção gostosa e amorosa, sensual e animal.
Abri minhas pernas para que ele fosse o mais fundo possível. E ele me estocava, e ele me fazia gemer e ver cores e sentir cheiros naquele quartinho vagabundo. Nunca pensei que pudesse ser tão boa a primeira vez. Voltei a pedir mais e mais. Percebi que ele já havia gozado, mas ele não me decepcionou e começou de novo. Desta vez, pediu para que eu me mexesse, como um professor. Eu, aluna dedicada, segui seus conselhos. Estava deixando um tempo para trás, descobrindo novas sensações. Percebi que fechando minhas pernas, ele se aproximava mais de mim e aquela fricção toda só aumentava meu tesão, senti algo vindo de dentro, do fundo, algo incontrolável. Foi meu primeiro orgasmo. Dado pelo meu primeiro homem. Meu primeiro namorado. Lembro-me de ter dito, no calor do momento e mesmo sem ser verdade: Sim, meu amor, sim...
Quando acordamos, olhamos um para o outro e rimos. Eu ri de um modo diferente, só para ele, e ninguém mais veria aquele sorriso. Era um sorriso reservado a ele. Eu cumprira a promessa. Não sei se teria coragem de levar meu casamento à frente. Porém, percebi que amava Roberto e que aquilo havia sido uma pesquisa. Sim, uma pesquisa interna. Agora, iria para Roberto preparada. Só não sabia se ele iria me perdoar. Charles sabia que em sete dias eu seria a mulher de outro, mas ali, naquele quarto sem atrativos, cor ou perfume, ouvindo o barulho da rua e das gotas de chuva, eu fui sua mulher, antes de ser de qualquer um neste mundo.

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